sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Escrever certo por linhas tortas ou escrever torto por linhas certas?

Como eu espero que V. Exas. já tenham reparado, desde o início deste ano, decidi enveredar pela aplicação do novo acordo ortográfico. Exato. Desse que já atingiu a maioridade.

Com maior ou menor resistência e dificuldade, concordando-se ou não, adotei-o e fi-lo sobretudo por questões de atualização e modernização. Afinal, nos píncaros dos extremos, o Olheiro mais não faz que serviço público e, nessa perspetiva, a obrigatoriedade reporta efetivamente a 01.01.2012, o que também perfaz o requisito da legalidade.

Todavia, a transição não está isenta a criticas, objeções e confusões até.

Exemplo: Guarda-redes.

Com ou sem hífen? Guarda-redes, guardaredes ou guarda redes, hein? Solução: fica na mesma. E a explicação? Ui… preparem-se, que a probabilidade de ficarem igualmente na mesma não é pequena: permanece o hífen nas palavras compostas por justaposição, que não contêm formas de ligação e cujos constituintes, por extenso ou reduzidos, mantêm a autonomia fonética e conservam o seu próprio acento.

Por vezes, só uma leitura mais atenta (e morosa), pode ajudar a desvendar as premissas que estão subjacentes ao nexo das alterações em causa, pelo que não admiram os mais de 20 anos de discussão que se vislumbram concluídos até 2015…

Então e o goleiro, o zagueiro (ou beque), o volante (ou cabeça de área), o meia-armador (ou meia-de-ligação ou apoiador), ponta e centroavante, não passam a guarda-redes, a central, a médio defensivo/trinco, a médio atacante, a extremo e a ponta de lança, respetivamente?

Não, mantêm as suas "posições" de raiz. É que o acordo ortográfico não altera significados, não suprime nem cria novas palavras, apenas altera a forma como se escrevem, visando a sua uniformização, mas só nas palavras que já existem.

Assim, da mesma forma, os brasileiros vão continuar a preferir usar o gerúndio, apanhar o trem e o ônibus e, nós, a privilegiar o modo infinitivo, o comboio e o autocarro, respetivamente. A sua utilização será feita de acordo com os usos e costumes de cada país. Tecnicamente, querendo, podemos aplicar qualquer um vocábulos referidos (encarados como que sinónimos), mas a sua utilização só fará sentido em consonância com os hábitos instalados, em função do território onde nos encontramos.

Salvaguardando algum desconhecimento da totalidade das normas aplicáveis, admito a introdução de alterações, tais como a supressão de consoantes mudas ou não articuladas, porém, noutras reconheço algum ceticismo, como são o caso da determinação do uso facultativo para certos vocábulos, no que concerne à utilização de maiúsculas e minúsculas e/ou acentos gráficos, numa aparente espécie de "vocábulo faça você mesmo".

Para já, nada como um bom corretor ortográfico, que o hábito trata do resto.

Polémicas à parte, reservas aqui e ali, vaticino um "no início estranha-se, depois entranha-se".

Digo mais: há anos que o Batista se separou do p e que o Vitor perdeu o c e, segundo consta, sobreviveram. Palpita-me que nós também.

Phorça, equipa!

Sem comentários:

Enviar um comentário